Felipe Néri
Do G1 DF
A Polícia Federal
prendeu 46 pessoas até o início da tarde desta quarta-feira (12) em
todo o país suspeitas de fraudar vestibulares de faculdades de medicina
em vários estados e no Distrito Federal. Uma das sete quadrilhas
envolvidas nas fraudes lucrava até R$ 2 milhões na época das provas, de
acordo com o delegado-chefe da operação, Leonardo Damasceno.
As investigações da operação, batizada de Calouro, ocorreram durante um
ano e seis meses e identificaram fraudes em 53 provas de admissão para
cursos de medicina em 11 estados e no Distrito Federal, em unidades de
ensino privadas e em algumas estaduais.
O delegado informou que os candidatos pagavam até R$ 80 mil para
conseguir aprovação, obtida por meio do uso do uso de documentos falsos e
de cola eletrônica. Em cada prova, as quadrilhas atuavam para
beneficiar pelo menos 20 candidatos.
De acordo com Damasceno, as instituições afetadas pelas fraudes
colaboraram com a investigação da polícia e não agiam de forma conivente
com as quadrilhas. “As instituições foram pegas de surpresa, pois não
tinham dimensão de que eram o grande alvo dessas quadrilhas”, afirmou.
A PF informou que empresários, um médico, um engenheiro e um estudante
de medicina comandavam as quadrilhas e, em um ano e meio, mais de mil
candidatos teriam tentado se beneficiar do esquema. Seis líderes dessas
quadrilhas foram presos em Goiás e um em Minas Gerais.
Entre as instituições que tiveram o resultado das provas fraudado,
estão a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, a fluminense
Estácio de Sá e a PUC Betim, em Minas Gerais. Também estão na lista a
paulista Anhebi Morumbi e a Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Equipamento usado em fraude em vestibular
(Foto: Assessoria de Comunicação/ PF-ES)
Distrito Federal
O delegado informou que, no Distrito Federal, pelos menos 60 estudantes
tentaram se beneficiar com o esquema em três vestibulares de medicina
das Faculdades Integradas da União Educacional do Planalto Central
(Faciplac) entre outubro de 2011 e novembro deste ano.
Dos 70 mandados de prisão emitidos pela Justiça nesta quarta, cinco
foram no DF, onde quatro pessoas haviam sido presas até o início da
tarde.
O delegado informou que, antes da operação, cinco quadrilhas já tinham
sofrido repressão da polícia por fraudes em vestibulares anteriores, mas
continuaram atuando porque os líderes não chegaram a ser condenados.
Entre 60 e 70 pessoas também já haviam sido presas, mas continuaram
atuando nos esquemas após a soltura, contou o delegado.
A operação ocorreu em Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo,Santa Catarina, Minas Gerais,Rio de Janeiro, Pará e Distrito Federal.
A atuação
A estimativa da PF é de que sejam pelo menos 30 unidades de ensino
superior afetadas em todo o Brasil pelas fraudes. "A carência de vagas
na rede pública e a disputa acirrada tanto das federais quando nas
particulares alimenta esse tipo de esquema, uma vez que os candidatos se
atraem pela facilidade. Essas quadrilhas investigadas não atuavam nas
universidades federais devido ao Enem, uma seleção muito maior e com
mais restrições no momento das provas", explicou o delegado.
Damasceno detalhou que o esquema funcionava de duas maneiras. Na mais
simples, uma pessoa envolvida na quadrilha falsificava documentos e
fazia a prova no lugar do verdadeiro candidato. Essa pessoa que
realizava a prova quase sempre era um aluno de medicina com boas notas
na faculdade.
Resposta de questão em vestibular (Foto: Assessoria
de Comunicação/ PF-ES)
Na outra modalidade, um membro da quadrilha fazia a prova rapidamente e
saía da sala. Esse falso candidato que resolvia a prova era chamado
pelos integrantes das quadrilhas de "piloto", pois deveria ser rápido
para resolver as questões, e também era aluno de medicina.
De posse do gabarito, ele conferia o resultado e passava as informações
por meio de uma escuta eletrônica ou por celular para o candidato.
Antes da prova, os candidatos que contratavam os serviços das quadrilhas
eram treinados para que soubessem como agir no momento de receber as
respostas
A Polícia Federal comunicará às faculdades os nomes dos candidatos que
foram identificados durante as investigações. "Esses alunos não possuem
um vínculo permanente com a quadrilha. Nós faremos uma notificação à
Justiça para que seja comunicado oficialmente e, então, sejam excluídos
da instituição os candidatos que conseguiram lograr êxito em passar em
uma ou outra instituição", afirmou o delegado.
Os detidos responderão a inquérito pelos crimes de formação de
quadrilha, falsidade ideológica, falsificação de documento, uso de
documento falso e lavagem de dinheiro, segundo a Polícia Federal.